RS Notícias: SELIC A 15%: QUEM TEM MEDO DA REALIDADE? – 20.06.25

Por André Burger

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) acaba de elevar a taxa básica de juros para 15% ao ano, patamar que o Brasil não via desde 2005, quando os juros estavam em 19,75% e 2006, quando os juros reduziram para 15,25%. Se isso não soa como um sinal de alerta para a economia brasileira, então é porque o debate público — e político — se divorciou de qualquer racionalidade econômica.

Onde está Luiza Trajano, crítica ruidosa da política monetária sob Roberto Campos Neto? Durante a gestão anterior, qualquer alta nos juros era tratada como uma agressão ao empreendedorismo, agora, com a SELIC nos níveis mais altos em quase duas décadas, está calada. Será que o “Brasil do consumo” afundou mesmo, ou virou um submarino ancorado em Brasília?

Onde está Gleisi Hoffmann? Aquela que, em tempos de Campos Neto, surtava de indignação a cada décimo percentual de aumento nos juros. Hoje, se resignou a dizer que não entende por que os juros aumentaram. Pois senhora Gleisi, a resposta é simples: os juros refletem a inflação esperada, o risco fiscal e a incerteza institucional. Entender de economia nunca foi seu forte e por isso repete essa dúvida como um mantra vazio.

E o presidente Lula? O mesmo que dizia que a taxa de juros subia pela falta de simpatia de Campos Neto pelo seu governo. Agora, com a taxa de juros ainda maior que o patamar que criticava anteriormente, joga a culpa nas condições da economia americana. Claro, sabemos que seu governo nunca é culpado do que quer que seja. Será que algum assessor já lhe contou que os juros americanos estão em 5,5%? A diferença não está lá fora, mas aqui, na forma como se conduz a política econômica, fiscal e institucional.

Com o PT no poder, e mais fortemente após 2023, o Brasil vive sob uma lógica em que gasto público é virtude, responsabilidade fiscal é neoliberalismo cruel e o Banco Central é sempre um inimigo, nunca um amortecedor. O resultado? Expectativas de inflação fora da meta, risco fiscal em alta e fuga de investimentos. Tudo isso se traduz, inevitavelmente, em juros altos. E não porque o Copom quer, mas porque precisa.

O gráfico que ilustra este post mostra como a taxa SELIC oscilou entre 2005 e 2025. Esse histórico ajuda a entender o cenário atual:

2005–2008: Período de contenção inflacionária com juros altos, seguidos por cortes à medida que o país apresentava crescimento econômico e controle fiscal.

2009–2012: Após a crise financeira global, houve oscilação na taxa para estimular a economia, mas com preocupação inflacionária crescente.

2013–2016: A política heterodoxa da “nova matriz econômica” gerou desequilíbrios — culminando em SELIC a 14,25% em 2016 para conter inflação de dois dígitos.

2017–2019: Período de forte desinflação e reformas fiscais (como o teto de gastos), permitindo cortes até 6,5% e depois 4,5%.

2020: SELIC atinge seu piso histórico de 2% durante a pandemia, mas isso gerou desequilíbrios posteriores.

2021–2022: A resposta ao descontrole inflacionário levou a um dos ciclos de alta mais rápidos da história: de 2% para 13,75% em 18 meses.

2023–2024: Tentativas de queda dos juros encontraram um obstáculo chamado risco fiscal.

2025: O mercado não tolerou mais. A SELIC sobe para 15%, não por maldade do Copom, mas porque as condições internas — dívida crescente do governo, déficit primário persistente e ausência de reformas — exigem prêmio de risco mais alto.

Esse quadro é o reflexo exato daquilo que economistas sérios dizem: juros altos não são uma política, são um sintoma. E quando o paciente se recusa a mudar o estilo de vida, o remédio é mais amargo.

O que isso nos mostra? Que juros são consequência, nunca causa. Não há complô contra o crescimento, nem pacto neoliberal contra os pobres. Há apenas uma coisa chamada realidade econômica, que sempre volta para cobrar a conta.

A taxa de juros é um reflexo. Ela revela o quanto o mercado — investidores, empresários, consumidores — confia no futuro. Quando o governo não tem controle fiscal, atropela marcos regulatórios, sabota reformas estruturais e transforma o estado em um agente político-partidário, o risco sobe. E quando o risco sobe, o juro acompanha.

Não há mágica. E não há vilões caricatos como a Faria Lima ou o agronegócio. O que há é uma economia sem bússola, com um governo que promete tudo a todos, mas não entrega nem o básico: estabilidade e previsibilidade.

SELIC a 15% não é política monetária restritiva. É apenas a consequência lógica de uma política econômica inconsequente.

Pontocritico.com

Source: RS Notícias: SELIC A 15%: QUEM TEM MEDO DA REALIDADE? – 20.06.25

Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *