A indefinição sobre o futuro da Warner — que pode ser vendida à Netflix ou à Paramount — já acende um alerta no mercado audiovisual e no varejo brasileiro. Caso o estúdio seja incorporado por uma gigante do streaming, a pressão sobre as redes de cinema, que já enfrentam queda de público, tende a aumentar. E esse impacto pode chegar também aos shopping centers, que ainda dependem das salas de exibição para atrair visitantes.
Netflix e Paramount disputam a compra
A Netflix formalizou uma proposta para adquirir os estúdios da Warner, incluindo HBO e HBO Max, mas deixando de fora os canais de TV por assinatura. Poucos dias depois, a Paramount surpreendeu ao apresentar uma oferta para comprar a empresa inteira.
A movimentação provocou reação imediata no Brasil. Abraplex e Feneec, entidades que representam as redes de cinema, divulgaram nota criticando a possível concentração de poder nas mãos de plataformas de streaming, alertando que isso pode afetar o ritmo de lançamentos e o tempo de permanência dos filmes nas salas.
O que preocupa os exibidores
As redes de cinema temem dois efeitos principais:
1. Redução da oferta de filmes
Se a Warner for absorvida por uma empresa de streaming, parte significativa das produções pode ser direcionada diretamente para as plataformas digitais, diminuindo a quantidade de títulos disponíveis para exibição nas salas.
2. Janelas de exibição ainda menores
Hoje, o intervalo médio entre a estreia no cinema e a chegada ao streaming é de cerca de 45 dias. As entidades defendem uma janela mínima de 63 dias, mas receiam que, com a venda, esse prazo diminua ainda mais — o que reduziria o apelo das salas.
Segundo as associações, 60% dos brasileiros já preferem esperar o lançamento no streaming, o que reforça a fragilidade do modelo tradicional.
Impacto nos shoppings
O desempenho dos cinemas influencia diretamente o fluxo de visitantes nos shoppings. Em 2023, por exemplo, o sucesso de Barbie — lançado pela Warner — impulsionou vendas e visitas em grandes redes como Multiplan e Iguatemi.
Luiz Alberto Marinho, da consultoria Gouvêa Malls, avalia que uma eventual venda da Warner para um serviço de streaming tende a reduzir ainda mais a frequência nos cinemas, afetando também os centros de compras. Ele lembra que:
- As visitas aos shoppings estão 22% abaixo do nível pré-pandemia.
- As bilheterias dos cinemas caíram 37% no mesmo período.
Para ele, a queda de público nas salas tem relação direta com a queda de fluxo nos shoppings.
Mas o impacto pode ser limitado
Outros especialistas, como Cláudio Sallum (Lumine) e Alberto Serrentino (Varese Retail), acreditam que os shoppings têm capacidade de adaptação. Eles destacam que:
- Os cinemas representam, em média, 8% do fluxo anual dos shoppings.
- Mesmo uma queda de 20% nesse público teria impacto total de cerca de 1% a 1,6% na visitação.
- O setor diversificou seu mix de atrações, reduzindo a dependência das salas de cinema.
- O hábito de combinar cinema com compras e gastronomia segue forte entre os brasileiros.
Serrentino reforça que os shoppings são “organismos vivos”, capazes de ajustar sua oferta conforme o comportamento do consumidor evolui.
Origem: RS Notícias: Por que a possível venda da Warner preocupa cinemas e shoppings no Brasil
