RS Notícias: POBREZA MORAL

A QUESTÃO MAIOR

Como bem afirma Jonas Rabinovitch, arquiteto urbanista com larga experiência como Conselheiro Sênior para Inovação e Gestão Pública da ONU em Nova York, no seu ótimo e instigante texto publicado na Gazeta do Povo de hoje, 22, -A QUESTÃO MAIOR JÁ NÃO É PARA ONDE O BRASIL VAI, MAS PARA ONDE VAI A NOSSA VERGONHA NA CARA-. Convencido de que o maior problema do Brasil não é a -POBREZA ECONÔMICA-, mas a -POBREZA MORAL-, Jonas entende que há certos momentos na história de um país nos quais é preciso PARAR PARA REFLETIR COM CALMA. Apesar de sermos a DÉCIMA ECONOMIA MUNDIAL, caminhamos para uma CRISE ADMINISTRATIVA, FISCAL E INSTITUCIONAL. Mesmo assim há outra crise muito mais séria: o Brasil de hoje não há apenas polarização de opiniões, mas um CONFLITO AMARGO ENTRE BENEFICIADOS PELO ESTADO E UMA MAIORIA QUE GOSTARIA DE TER UM PAÍS MELHOR.

CINCO VEZES MAIOR NO BRASIL

Uma pesquisa da Atlas/Bloomberg, de agosto de 2025, mostra que 52% NÃO CONFIAM NO GOVERNO. Esse nível de desconfiança aumentou em relação à pesquisa anterior, de fevereiro deste ano. Além disso, o Brasil se destaca pela baixa confiança entre as pessoas: segundo um estudo do BID – BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO, em 2022, apenas um em cada 20 confia em outros brasileiros. A média mundial mostra que uma em cada quatro pessoas tende a confiar em estranhos. É como se a desconfiança interpessoal fosse CINCO VEZES MAIOR NO BRASIL DO QUE NO RESTO DO MUNDO. Essa desconfiança entre as pessoas se reflete nos indicadores econômicos e sociais, afetando a segurança, a produtividade e a inovação.

RETRATO CRUEL

Por que acontece isso? Dia após dia, nos acostumamos a ouvir promessas políticas vazias que não se cumprem, traficantes e assassinos sendo colocados em liberdade pela Justiça, proliferação de golpes em consumidores, incluindo chamadas de telefones celulares vindas de presídios, insegurança nas ruas, lares cercados por arame farpado e portões eletrônicos, pagamentos muito acima do teto legal para juízes e funcionários públicos, prejuízos bilionários nas estatais – os CORREIOS PERDERAM R$ 4,3 BILHÕES SÓ NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2025, BILHÕES EM FRAUDES NO INSS SENDO INVESTIGADOS, ECONOMIA ESTAGNADA, OITO MILHÕES DE EMPRESAS INADIMPLENTES, INVESTIMENTOS FUGINDO DO PAÍS, BRASILEIROS INDO EMBORA BUSCANDO UM FUTURO MELHOR PARA OS FILHOS. Não há como saber quantas pessoas foram alvo de censura no Brasil pelo STF e pelo TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL nos últimos anos. Ainda por cima, o mundo já sabe que o Brasil corre um sério risco de se transformar em um narcoestado: em matéria publicada no New York Times em 2024 e em outros veículos, há referências sobre a invasão de uma “máfia” na política nacional e notícias internacionais sobre o aumento da influência de poderosas facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, em vários aspectos sociais e econômicos do país.

POBRE PAÍS RICO

Resumindo: o BRASIL É UM POBRE PAÍS RICO ONDE NINGUÉM CONFIA EM NINGUÉM. Porém, entre todos os nossos problemas, a crescente pobreza moral parece ser a mais preocupante, porque afeta a todos e deixa o país flutuando em incertezas, sem direção definida ou liderança palpável. É como se metade do país trabalhasse para a metade que não trabalha. Há ainda a nítida impressão de que a metade que trabalha não confia no governo e a metade que confia no governo não trabalha.

Tim Maia teria dito: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante é viciado e pobre é de direita.” A frase é engraçada, mas, se fosse verdadeira, o Brasil já teria dado certo. Segundo nossos políticos de esquerda, os brasileiros pobres já são de esquerda; além disso, os traficantes, prostitutas e cafetões já se profissionalizaram com excelência há muito tempo. Mas tudo continua igual, o Brasil sendo o país de um futuro que nunca chega.

O brasileiro gosta de se achar esperto, gosta de dizer que tudo vai acabar em pizza e faz piada com a própria desgraça. Parece incapaz de se indignar porque ainda está entre os povos mais cordiais do planeta, por enquanto. Como disse Gonzaguinha na música “Comportamento Geral”: você merece. Não gosto de ser profeta de nenhum apocalipse, mas até quando o país do carinho e da saudade vai conseguir continuar assim?

Um exemplo importante: em 1949 a Alemanha se dividiu em Alemanha Capitalista (Ocidental) e Alemanha Comunista (Oriental). Isso durou 41 anos, até a reunificação em 1990. Esses 41 anos foram suficientes para mudar totalmente o comportamento dos alemães orientais, os quais ficaram comprovadamente burocráticos e ineficientes, assim como seu país. A Alemanha Ocidental até agora precisou investir mais de 2 trilhões de euros para reerguer a Alemanha comunista depois da reunificação. Foram três tipos de investimentos: 1) reabilitar a infraestrutura deteriorada da Alemanha Oriental; 2) limpar a degradação ambiental causada pela era comunista; 3) apoiar a transição para uma economia de mercado.

Vejo o governo brasileiro se declarando de “esquerda” e celebrando a fuga de investimentos no Brasil como se isso fosse uma vitória comunista, o que é um grande erro. Será que não aprendemos nada com a História?

Quando vamos ter um governo que pense no país como um todo? Seria possível deixar de lado a ideologia ou as chamadas “polarizações” entre Lula x Bolsonaro, Esquerda x Direita, EUA x China, ou a velha e ultrapassada pergunta: comunismo ou capitalismo? Que tipo de Brasil sobraria?

Há dezenas de milhões de brasileiros que apenas querem um país seguro, com trabalho, educação, saúde, mobilidade e habitação para sua família. Mas isso é suficiente para construirmos uma visão comum de país? Talvez não, porque a pobreza moral impede isso, começando com o fato de que há beneficiários e defensores desse tipo de Estado no qual vivemos – possivelmente representados por aquela minoria que diz confiar no governo. Convenhamos: a “opinião” de cada um apenas reflete seus próprios interesses.

QUAL A SAÍDA?

Uma pequena minoria consegue manipular um país? Claro. Tem sido assim durante a maior parte da História. Os ideais democráticos defendidos pela Revolução Americana, pela Revolução Francesa e pelo Iluminismo, na verdade, são exceções e não a regra em termos históricos. Os bolcheviques que fizeram a Revolução Russa diziam que bastava controlar a infraestrutura de comunicação para controlar um país. Por sinal, a revolução comunista russa teve apoio do capitalismo alemão e causou a morte de dezenas de milhões de pessoas. Eles sabiam que revoluções não são feitas pelas massas. Os pobres estão muito ocupados tentando sobreviver para perder tempo com exercícios de participação democrática. Outro exemplo: dados de 2019 já mostravam que 89% dos venezuelanos estavam insatisfeitos com o presidente Maduro, mas as ditaduras se sustentam acusando os opositores de serem antidemocráticos.

Há dezenas de milhões de brasileiros que preferem viver de forma honrada. Será que essa maioria prefere dignidade, respeitabilidade, ética e uma vida pautada em honestidade, transparência e compaixão? Claro. Tem sido assim durante a maior parte da História. As minorias que governam contam com isso e falam nesses valores o tempo todo. Por isso mesmo, a infraestrutura de comunicações é tão importante, justificando os milhões investidos pelo governo em veículos de mídia, os quais se tornam beneficiários e defensores do governo. Em contraponto a isso, os recentes protestos nas ruas no dia 7 de setembro mostram claramente um desejo de mudança.

E qual a saída, além do aeroporto? A História tem lições importantes sobre mudanças drásticas na moralidade de um país, tanto positivas como negativas. No lado positivo, temos a abolição da escravidão nas colônias da Grã-Bretanha (1833) e nos Estados Unidos (1865). Dois aspectos importantes: 1) esse processo durou quatro anos na Grã-Bretanha e foi relativamente pacífico; 2) nos EUA, foi preciso uma sangrenta guerra civil que também durou quatro anos. No Brasil, a abolição só aconteceu décadas depois, em 1888. Fomos o último país a reconhecer a abolição, o que é triste.

No lado negativo, o regime nazista impôs a partir de 1935 uma vergonhosa moralidade, substituindo a moral iluminista por leis raciais que favoreciam a “raça ariana” e assassinando milhões de judeus, mas também negros, ciganos, deficientes físicos etc.

QUATRO CAMINHOS

No Brasil, vejo QUATRO CAMINHOS.

1- O primeiro deles é o Brasil seguir a Venezuela e se tornar uma nova colônia tropical chinesa. Spoiler: o coeficiente Gini da China, uma medida da desigualdade de renda, está entre os mais altos do mundo (0,46), indicando grande disparidade na distribuição de riqueza. A maior desigualdade social global está na África do Sul (0,63).

2- O segundo caminho é o Brasil atingir uma situação de grande descontentamento civil, forçando reformas urgentíssimas lideradas pelo mesmo Congresso que luta entre si há vários anos para debater várias outras reformas urgentíssimas.

3- O terceiro caminho é o revolucionário como o acontecido no Nepal no início de setembro, mas acho isso pouco provável, devido à “índole pacífica do povo brasileiro”. Além disso, muitos militares e estudantes – tradicionais agentes de mudança – parecem muito contentes com a situação do país. Não sei até quando. Tampouco vejo caminhos violentos como solução.

4- Por fim, no quarto caminho possível, a população se conscientiza, o Brasil elege políticos responsáveis e um presidente ético, transparente, avesso a escândalos de corrupção, humilde perante Deus, promotor de reformas que facilitem educação, responsabilidade fiscal, liberdade individual, um mercado livre vibrante e dignidade humana. Só espero que o candidato não leve uma facada.

Pontocritico.com

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