RS Notícias: O ESPETÁCULO DA ADULAÇÃO SERVIL – 03.09.25

Por Alex Pipkin – PHD

Há quem ainda se surpreenda com a natureza humana — ingênuos ou interesseiros natos. Completando sessenta anos, sorriu com o ceticismo de quem observa a vida cotidiana como ela é, uma sucessão de esperanças vãs. Não sou perfeito, mas estudo fatos, dados e o comportamento humano. E o que vejo no Brasil não é exceção, é norma. Em especial no cancro do país que é o Judiciário, onde a adulação e o servilismo se tornaram rotina que abomino.

A tribuna, a sala de reunião, o balcão da repartição, o púlpito político, os artigos na mídia, todos se tornam palcos de um teatro tragicômico. Cada ator busca aprovação como se a própria existência dependesse disso. Advogados que não doutoram em nada exigem o título; analistas, escritores e intelectuais vestem otimismo como fraque de gala, mesmo que suas análises estejam completamente apartadas da realidade; magistrados se contemplam como Narcisos modernos, fascinados pelo reflexo de sua própria suposta grandeza. Onde ficam mérito, competência ou lógica? Ficam de fora, fumando um cigarro de desprezo.

É a velha farsa da simpatia — que Adam Smith descreveu como a inclinação humana a buscar aprovação — transformada em vício social. A adulação deixou de ser gesto, tornou-se ritual. O elogio falso é moeda obrigatória; a empatia, encenação cínica. No Judiciário, essa encenação se institucionalizou, transformando-se em arte dissociada da realidade, repetindo-se todos os dias, sem que ninguém ouse questionar.

A verdade, quando baseada em fatos e dados, é frequentemente recebida como ofensa pessoal. A sociedade insiste em interpretar a realidade como afronta, e então se impõe a adulação: um muro entre honestidade e convivência, uma obrigação de sorrir e elogiar, mesmo quando tudo é absurdamente claro. Cada palavra exagerada, cada gesto calculado reforça a teatralidade e o culto à vaidade.

No espelho líquido de cada plateia, cada figurante, cada Narciso, vê-se indispensável, belo e sábio, nunca tão sábio quanto o reflexo sugere, mas suficientemente vaidoso para acreditar que sim. O país aplaude enquanto tudo isso se desenrola, cúmplice, indiferente, sorrindo para a própria caricatura.

E o mais cruel de tudo isso é que o espetáculo não tem fim, e ninguém parece notar que a vida inteira se tornou uma “cena elogiável”. Isso é, e talvez seja algo profundamente triste para a humanidade, comprometendo a possibilidade de uma civilidade verdadeira, honesta e fundamentada em fatos. Triste.

Pontocritico.com

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