RS Notícias: NUNCA FOMOS TÃO SENSÍVEIS E, PARADOXALMENTE, TÃO AUTORITÁRIOS – 03.06.25

 Por Alex Pipkin

 

Por trás das palavras suaves e causas justas, cresce um novo tipo de tirania: a tirania sensível. Em nome da empatia, a censura; da inclusão, o silenciamento; do respeito, o medo. A linguagem da dor substituiu a linguagem da verdade, curvando a sociedade à emoção como novo critério moral.

Chegamos ao auge de uma contradição moral e civilizatória. Nunca se falou tanto em empatia, diversidade e liberdade — e nunca se viu tão pouca tolerância ao pensamento livre, ao humor, ao direito de discordar. A liberdade foi reconfigurada em moldes afetivos, subjetivos — e, no fundo, autoritários. O riso virou agressão. A opinião virou crime. A crítica virou discurso de ódio.

A sociedade se transformou num jardim de porcelana, cheio de flores frágeis, onde tudo ofende. Não há mais espaço para a ironia, para o exagero criativo, para a ambiguidade. O discurso precisa ser higiênico, previsível — sob pena de linchamento moral. A patrulha da linguagem se tornou forma de controle mais eficaz do que qualquer polícia.

Curiosamente, os protagonistas desse novo moralismo não se reconhecem como censores. Ao contrário, são os “do bem”, os “antifascistas”, os “protetores dos oprimidos”. Defendem minorias — desde que pensem como eles. Lutam por liberdade — desde que à sua imagem. E, em nome dessa pauta, aplaudem as piores formas de autoritarismo institucional, como a atual supremocracia do STF.

A ditadura da toga é a expressão jurídica do delírio emocional dessa era. A mais alta corte do país virou um comitê de repressão ideológica, quebrando sigilos, prendendo por palavras, monitorando redes, desfigurando a Constituição sob o pretexto de defendê-la. O pensamento foi substituído pela vigilância. O direito, pela narrativa. A justiça, pela emoção.

Mas por que chegamos a isso? A explicação não está apenas na política. Está num deslocamento civilizacional mais profundo. Ao expulsar Deus, a autoridade, o mérito e a responsabilidade do centro da vida social, o Ocidente precisou criar uma nova medida de valor: a dor. A dor virou verdade. Quem sofre (ou diz sofrer) tem razão. Quem questiona, agride.

É por isso que a vitimização se tornou moeda de poder. Numa sociedade que já não sabe o que é virtude, o único prestígio vem do lugar simbólico da ferida. E quanto mais performática essa ferida for, mais autoridade ela confere.

Essa cultura, que começou como apelo legítimo por respeito, degenerou em chantagem simbólica. Os mesmos que se dizem oprimidos por piadas e palavras aplaudem ministros togados que prendem por opinião, censuram livros e controlam redes sociais como se fossem donos da verdade. Em nome da liberdade, pedem censura, do respeito, impõem medo, da democracia, sufocam a divergência.

Não se trata de metáfora. Em 2024, o STF abriu mais de 70 inquéritos com base em “fake news” e “atos antidemocráticos”, muitos sem denúncia formal do Ministério Público. Parlamentares, jornalistas, empresários e até humoristas foram censurados, investigados ou presos por decisões monocráticas. O direito à ampla defesa e ao contraditório foi esmagado por um moralismo judicial militante, que se considera acima de qualquer crítica.

A patrulha da linguagem, a cultura do cancelamento e o sistema judicial ativista formam uma Santa Aliança entre ressentimento social e poder absoluto.

A censura voltou. Mas voltou colorida, sorridente, universitária, engajada. Agora ela usa perfume, desfila na Parada Gay, cita Simone de Beauvoir, posta no Instagram e assina abaixo-assinados contra “o discurso de ódio”. O velho autoritarismo agora vem de salto alto e hashtag. E a liberdade, coitada, foi cancelada por não saber usar linguagem neutra.

Não, senhores, não é só a liberdade que está em risco.

É a própria inteligência humana sendo cancelada em nome da emoção irrestrita.

Pontocritico.com

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