por Jurandir Soares
Vitória de Mamdani na prefeitura deflagra novo cenário no processo eleitoral americano
O prognóstico se confirmou: a maior cidade da maior potência capitalista do mundo passará para um regime socialista. Transporte público gratuito, creche gratuita, supermercado do governo municipal para fornecer produtos subsidiados, aluguéis congelados e outras benesses mais decorrentes do sistema. A tudo isto se soma o fato de a cidade passar a ser governada por um jovem muçulmano, de 34 anos, nascido em Uganda e filho de imigrantes indianos. Ou seja, um terremoto sacudindo os tradicionais preceitos estadunidenses.
Zohran Mamdani, o vencedor, desafiou até mesmo o tradicional Partido Democrata que, embora sempre tivesse uma postura mais de centro-esquerda em contraponto aos republicanos de centro-direita, sempre resistia em aderir às teses socialistas.
RACHA
Então, a primeira consequência é um racha no Partido Democrata, dando lugar, pela primeira vez, a uma vitória das teses defendidas pelo senador Bernie Sanders e pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez. A tentativa desesperada do partido buscando evitar a vitória de Mamdani se deu com o ex-governador de Nova Iorque Andrew Cuomo. Ele, que foi derrotado na convenção do partido que apontou o candidato à prefeitura, resolveu concorrer no pleito municipal como candidato independente. Não levou. Conseguiu 41,6% dos votos enquanto que o jovem socialista alcançou 50,4%.
A divisão ficou marcada por dois expoentes do partido. Enquanto o ex-presidente Barack Obama resolvia apoiar Mamdani, o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, que é senador justamente pelo estado de Nova Iorque, negava o apoio.
CHOQUE
Mas como se observa, prevaleceram as promessas de Mamdani, que hoje é deputado pelo Queens. Promessas de tornar a cidade mais barata e acessível para os novaiorquinos. “Estamos respirando o ar de uma cidade que renasceu. Escolhemos a esperança diante do dinheiro graúdo e das ideias pequenas”, declarou em seu discurso de vitória. E é no “dinheiro graúdo” que ele também quer faturar, com uma outra iniciativa bem esquerdista: taxar os ricos.
A vitória de Mamdani também chocou o atual maior líder republicano, o presidente Donald Trump, cujo candidato do partido na presente eleição, Curtis Sliwa, alcançou apenas 7,1% dos votos. Fiel aos seus rompantes, Trump já ameaçou suspender toda a ajuda federal à cidade de Nova Iorque. De sua parte o jovem vencedor, dirigindo-se ao presidente, declarou: “Para chegar a qualquer um de nós, você terá que passar por todos nós”. E numa outra provocação a Trump, disse que “a partir desta noite”, a cidade “é liderada por um imigrante”. Ou seja, tocou num outro ponto crítico de Trump, que é o combate à imigração.
JUVENTUDE
A vitória de Mamdani esteve respaldada na juventude, que constituiu um exército de mais de 100 mil voluntários, que entraram de corpo e alma na campanha eleitoral. E este é justamente um setor que sabe usar as redes sociais e todos os mais modernos sistemas de comunicação para difundir suas ideias. Esses voluntários se organizaram por bairros, trabalhando desde as 6h até o anoitecer. Sendo que, depois disto, se faziam presentes em eventos, festas comunitárias, exposições, espetáculos de toda natureza, etc.
Assim é que, para desespero dos setores mais conservadores dos democratas, este contingente ganhou força. E começa a deflagrar um novo cenário no processo eleitoral dos Estados Unidos. O que antes era impensável começa a ganhar corpo na maior cidade do país.
FUTURO
No entanto, tudo vai depender de como o jovem imigrante muçulmano irá se conduzir à frente da maior cidade do país que o adotou. Se tiver sucesso estará impulsionando o setor mais à esquerda dos democratas para uma candidatura à presidência nas próximas eleições. Nesse caso, ironicamente, é possível que Trump não atrapalhe muito o andamento da administração em Nova Iorque, porque o impulso para uma candidatura democrata de extrema esquerda na próxima eleição para a presidência favoreceria uma vitória dos republicanos.
Correio do Povo