Mohamed Siad Barre foi um dos líderes mais marcantes da história da Somália, governando o país com mão de ferro por mais de duas décadas. Seu regime (1969-1991) foi caracterizado por um governo socialista, alinhado alternadamente com a União Soviética e os Estados Unidos, seguido por um colapso brutal que mergulhou a Somália no caos e na guerra civil.
1. Primeiros Anos e Ascensão ao Poder
Origens e Formação
Mohamed Siad Barre nasceu em 1919 na região de Ogaden, então sob controle da Etiópia, mas cresceu no que hoje é a Somália. Pouco se sabe sobre sua infância, mas ele foi um dos poucos somalis a receber educação formal durante a colonização italiana.
Nos anos 1940, Barre ingressou na Polícia Colonial Italiana da Somália, onde se destacou como um dos poucos somalis a alcançar posições de comando. Após a independência da Somália em 1960, ele rapidamente ascendeu no exército, tornando-se comandante em chefe das Forças Armadas.
Golpe de Estado de 1969
Em 1969, após o assassinato do presidente Abdirashid Ali Sharmarke, o governo civil somali entrou em crise. Aproveitando-se do momento, Siad Barre liderou um golpe militar sem derramamento de sangue, estabelecendo um governo revolucionário baseado no socialismo científico e no nacionalismo somali.
2. O Regime Socialista e Alinhamento com a União Soviética (1969-1977)
Após assumir o poder, Barre estabeleceu o Supremo Conselho Revolucionário, dissolvendo o parlamento e a constituição. Seu governo adotou uma ideologia de inspiração marxista-leninista, com forte repressão política e um culto à personalidade em torno de Siad Barre, que se autoproclamava o “Pai da Revolução”.
Principais Reformas
- Coletivização da Economia: Nacionalizou bancos, indústrias e terras.
- Campanhas de Alfabetização: Implementou programas de educação, tornando o somali uma língua escrita pela primeira vez.
- Repressão Política: Criou um aparato de segurança brutal, incluindo a infame Nacional Segurança Service (NSS), responsável por tortura e execuções de opositores.
Guerra de Ogaden (1977-1978)
Um dos maiores erros de seu governo foi a invasão da região de Ogaden, na Etiópia, em 1977. Barre queria anexar a área, que era habitada por somalis étnicos. Inicialmente, a Somália teve sucesso, mas a Etiópia recebeu apoio militar da União Soviética e de Cuba, resultando em uma derrota somali.
Essa guerra marcou o fim da aliança da Somália com os soviéticos, levando Barre a se aproximar dos Estados Unidos.
3. Alinhamento com os EUA e o Declínio do Regime (1978-1991)
Após a Guerra de Ogaden, Barre rompeu com a União Soviética e se aliou aos Estados Unidos, que passaram a fornecer ajuda militar e financeira em troca de bases estratégicas no Chifre da África.
No entanto, seu governo começou a desmoronar devido a vários fatores:
- Corrupção e Nepotismo: Ele favoreceu membros de seu próprio clã, alienando outras etnias.
- Guerras Civis e Rebeliões: A oposição cresceu, com grupos como a Frente Democrática de Salvação Somali (SSDF) e o Congresso Unido Somali (USC) iniciando levantes.
- Fome e Pobreza: O país mergulhou em uma grave crise econômica.
Em 1988, Barre lançou uma campanha genocida contra o povo Isaaq no norte do país, bombardeando cidades inteiras, incluindo Hargeisa. Estima-se que entre 50.000 e 200.000 pessoas foram mortas.
4. A Queda e o Exílio (1991-1995)
Em janeiro de 1991, forças rebeldes tomaram a capital Mogadíscio, forçando Siad Barre a fugir. Ele tentou retornar ao poder, mas fracassou.
Exilou-se na Nigéria, onde morreu em 1995, aos 75 anos. Seu legado é amplamente negativo, pois sua queda deixou a Somália sem governo central, iniciando uma guerra civil que dura até hoje.
Conclusão
Siad Barre governou a Somália com punho de ferro, promovendo um regime inicialmente modernizador, mas que se tornou brutal e corrupto. Sua queda resultou no colapso total do Estado somali, um problema que ainda persiste.
Source: RS Notícias: Mohamed Siad Barre: A História do Ditador da Somália
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