O fim do suporte a atualizações do Windows 10, sistema operacional da Microsoft, marcado para terça, 14, preocupa não apenas os milhões de usuários no País, mas também empresas, que terão de enfrentar novos custos e lidar com brechas digitais.
A grande insatisfação de usuários com a atualização forçada para o Windows 11 é a quantidade de computadores que não são compatíveis com o sistema operacional. Somente na América Latina, cerca de 62,2 milhões de dispositivos não são aptos para receber o novo software, de acordo com um levantamento da Intel – o que pode gerar uma troca compulsória de aparelhos.
Para as empresas, esse também é um problema. Segundo uma estimativa da Simpress, empresa de locação de computadores corporativos, o Brasil tem 13 milhões de computadores em uso empresarial, a maioria equipada com Windows.
“Para nós, o fim do do suporte do Windows 10 é um marco tecnológico de grande impacto. Quando a gente olha essa mudança do ponto de vista de segurança, que eu acho que é o mais crítico, não ter o sistema atualizado pode significar vazamento de informação confidencial e comprometer a reputação da atividade principal da companhia”, explica Georgia Rivellino, diretora de Marketing, Produtos e Soluções da Simpress, ao Estadão.
A companhia já tem recebido uma demanda maior de solicitação de trocas para dispositivos compatíveis com o Windows 11. A Simpress tem um parque tecnológico de 300 mil dispositivos e espera que a troca de sistema operacional impulsione um crescimento da empresa de 30% em 2025.
Porque é importante
Se para o usuário final é importante manter o computador em dia, para as empresas pode ser uma questão de sucesso de negócio continuar operando com um sistema operacional atualizado. A partir do dia 14, a Microsoft vai deixar de oferecer atualizações para o Windows 10, o que significa que qualquer nova vulnerabilidade encontrada no software não será corrigida. Além disso, seu funcionamento não será otimizado para os computadores com componentes mais antigos, como processador e memória.
Para as empresas, porém, é a segurança de dados que obriga a troca. Vulnerabilidades no sistema operacional são porta de entrada para hackers utilizarem técnicas de invasão, que podem roubar informações sigilosas e instalar programas de monitoramento de atividades.
Para Alexandre Bonatti, vice-presidente de engenharia da Fortinet Brasil, as empresas precisam colocar a troca de computadores compatíveis com o novo sistema no orçamento – um movimento que pode custar alguns milhares de reais em alguns casos. Operar com um sistema desatualizado, segundo o especialista, é um risco que pode acarretar em perda de negócios e de receita, caso o dispositivo seja invadido.
A Microsoft informa em seu site que a não atualização do sistema operacional pode tornar os computadores “mais vulneráveis a ameaças cibernéticas, como malware e vírus”, além de não garantir o bom funcionamento de aplicativos e a “conformidade regulatória” de empresas. O Windows 10 teve dez anos de atualização pela empresa de Bill Gates – mesmo período de seus antecessores, as versões Windows 8 e Windows 7, que também foi um sucesso com os usuários.
O aviso, confirmado para a reportagem pela empresa, atende as práticas do Procon, que acompanha o caso principalmente em relação ao valor de US$ 30 cobrado pela Microsoft para a extensão. Na Europa, a taxa foi suspensa para atender a regulação local do consumidor.
“Os preços praticados para as assinaturas tanto do novo Windows 11 quanto do Windows 10, devem ser explicados de forma clara, bem com as diferenças entre os produtos”, afirmou o Procon ao Estadão. No entanto, o caso ainda não resultou em queixas no órgão.
Bonatti também chama a atenção para um outro problema da desatualização do sistema: um potencial aumento de ataques após o encerramento do suporte da Microsoft. As estimativas são que, uma vez que as vulnerabilidades não sejam corrigidas, criminosos aproveitem a brecha para investir em mais ataques voltados ao Windows 10.
“Esse é o momento em que os atacantes devem ampliar essa busca por vulnerabilidades dentro do Windows 10 para tentar lograr sucesso nos ataques”, aponta Bonatti. “Isso se torna um cenário ideal para que os cibercriminosos consigam aumentar esses ataques”.
O que fazer
Bonatti indica que o ideal é sempre estar com o sistema operacional atualizado, mas admite que a troca, muitas vezes, pode não acontecer de forma imediata. Nesses casos, as empresas devem investir em uma camada de proteção fora do dispositivo, chamado virtual patching. A ferramenta, que funciona como uma camada de segurança acima do sistema operacional, vai permitir que ameaças sejam identificadas antes de passar pelo sistema operacional.
“É urgente que todo mundo atualize suas máquinas, essa é a melhor prática. Mas utilizar sistemas operacionais legados é uma prática comum. O que as empresas, nesse caso, têm que considerar é a utilização de tecnologias de segurança externas ao sistema operacional que sejam capazes de aplicar esse conceito de virtual patching”, afirma Bonatti.
A medida pode ser uma opção para muitas empresas, já que a migração pode ser adiada por conta do custo. De acordo com a Lansweeper, uma ferramenta de gerenciamento de TI, aproximadamente 43% dos computadores empresariais no mundo não atendem aos requisitos mínimos para o Windows 11.
A Microsoft oferece um plano de ESU (atualizações de segurança estendidas, na sigla em inglês), uma extensão da atualização do Windows 10 até outubro de 2026. Para o plano consumidor, existem opções pagas e gratuitas para alongar o uso do software. Segundo o site da empresa, o plano comercial do ESU está disponível por US$ 61 por dispositivo, válido por um ano, com a possibilidade de cobrir até três anos de atualização.
Para a reportagem, a Microsoft não forneceu comentários sobre o impacto no Brasil e reforçou as opções listadas em seu site, assim como as práticas de atualização de sistema.
Aposentadoria precoce
Mesmo com o Windows 11 lançado há quatro anos, a “aposentadoria” da sua versão anterior tem sido considerada prematura por especialistas do setor. Como um sistema operacional considerado bom e bem avaliado, o Windows 10 ainda tem muitos usuários que precisam do suporte da empresa por mais alguns anos.
“É (um encerramento) precoce. (O suporte) deveria ficar pelo menos mais um ano, vide decisão da Comunidade Europeia que obrigou a extensão. Usuários podem encontrar como impacto o tempo e custo para instalar a nova versão, além de eventuais problemas com o hardware, que é raro, mas ocorre”, aponta Fernando S. Meirelles, professor titular de TI e fundador do FGVcia.
O entendimento geral é que, enquanto ainda for amplamente utilizado, a Microsoft deveria manter as atualizações em prol do consumidor e de usuários que utilizam dispositivos com Windows, principalmente quem vai se deparar com dispositivos obsoletos após 14 de outubro.
“Enquanto o Windows 10 continuar funcional e amplamente utilizado, existe uma expectativa legítima de que o sistema receba atualizações de segurança que evitem riscos aos consumidores. Interromper essas atualizações — ou condicioná-las a pagamento — pode ser interpretado como descumprimento da boa-fé objetiva e da garantia de adequação do produto, especialmente considerando que o sistema operacional é essencial para o funcionamento seguro desse tipo de equipamento eletrônico”, afirma o Instituto de Defesa de Consumidores (IDEC).
Estadão
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