Contraste entre fortunas reflete instabilidades do varejo brasileiro e oscilações na BolsaEm um cenário de contrastes no varejo nacional, Luciano Hang, o polêmico “Véio da Havan”, ostenta uma fortuna estimada em R$ 4 bilhões, impulsionada pelo crescimento de sua rede de lojas. Já Luiza Helena Trajano, ícone do empreendedorismo feminino e presidente do Conselho Administrativo do Magazine Luiza, enfrenta uma queda acentuada em seu patrimônio, caindo no ranking global de bilionários. Aos 70 anos, Trajano é uma das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time e uma das mulheres mais ricas do Brasil, mas sua posição reflete os desafios do mercado volátil.De acordo com a Forbes, Luiza Trajano tem uma fortuna atual de US$ 1,4 bilhão (equivalente a cerca de R$ 6,5 bilhões, considerando a cotação atual), o que a coloca na 50ª posição entre os bilionários brasileiros, na quinta entre as mulheres mais ricas do país e no 2.076º lugar no ranking global. O declínio é notável: no segundo semestre de 2021, seu patrimônio encolheu de US$ 5,3 bilhões para os atuais US$ 1,4 bilhão — uma perda de mais de dois terços —, principalmente devido à desvalorização das ações do Magazine Luiza (Magalu) na Bolsa de Valores. Essa oscilação é típica de períodos de instabilidade econômica, onde o valor de mercado das empresas pode evaporar rapidamente.O império do Magalu: expansão digital e desafios recentesFundado em 1957 como uma pequena loja de eletrodomésticos em Franca (SP), o Magazine Luiza cresceu sob a liderança de Trajano para se tornar uma das maiores redes varejistas do Brasil, com quase mil lojas físicas espalhadas pelo país. Nos últimos anos, a empresa apostou pesado no e-commerce, transformando-se em um gigante digital. O valor de mercado atual do Magalu é de R$ 39,89 bilhões, e Trajano foi pioneira na integração entre lojas físicas e online.Entre as aquisições estratégicas da década passada, destacam-se a compra da Netshoes, especializada em artigos esportivos, e da Época Cosméticos, ampliando o portfólio para além de eletrônicos. Curiosamente, de todas as expansões recentes, apenas duas envolveram redes com presença física, mostrando o foco no digital. “Luiza Trajano é um símbolo de inovação no varejo brasileiro, mas o mercado de ações não perdoa volatilidades”, analisa um relatório da Forbes, que atribui a queda patrimonial à pressão inflacionária e à concorrência acirrada de players como Amazon e Mercado Livre.Luciano Hang: ascensão estável da HavanDo outro lado do espectro, Luciano Hang, fundador da Havan, mantém uma trajetória de crescimento contínuo. Com fortuna avaliada em R$ 4 bilhões, o empresário expandiu sua rede de lojas temáticas — inspiradas em cenários brasileiros como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar — para mais de 160 unidades em todo o país. Conhecido por seu estilo excêntrico e posicionamentos políticos controversos, Hang transformou a Havan em um case de sucesso no varejo popular, focado em moda, casa e acessórios acessíveis.A estabilidade de Hang contrasta com as turbulências de Trajano, evidenciando como diferentes estratégias no varejo respondem de formas variadas às crises econômicas. Enquanto o Magalu sofreu com a pandemia e a alta de juros, a Havan se beneficiou da retomada do consumo presencial e de uma gestão mais conservadora.Lições de um mercado em transformaçãoA disparidade entre as trajetórias de Hang e Trajano ilustra os altos e baixos do varejo brasileiro: de um lado, a inovação digital que impulsiona, mas também expõe a riscos de mercado; do outro, o modelo tradicional que resiste melhor a choques. Para Trajano, a queda no ranking não diminui seu legado como pioneira — ela continua sendo referência em empoderamento feminino nos negócios. Já Hang reforça sua posição como um dos nomes mais resilientes do setor. Em um Brasil onde o varejo representa 20% do PIB, essas histórias mostram que riqueza não é estática: é um reflexo das marés imprevisíveis da economia.
Diário de Pernambuco
