RS Notícias: EMOÇÃO E PODER – 24.09.25

 Alex Pipkin, PhD

Há livros que não se limitam a ser lidos; há livros que deveriam ser vividos, compreendidos, ensinados, transmitidos, porque desvendam os mecanismos mais íntimos da condição humana, revelando como nossas decisões, emoções, medos e vulnerabilidade à manipulação são sistematicamente moldados por trilhas invisíveis de comportamento. Um desses livros é Rápido e Devagar, do Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman. Nas escolas, poderia ser apresentado de forma visual, gráfica, quase lúdica, para que crianças e adolescentes compreendessem que suas escolhas não são inteiramente livres, mas determinadas por sistemas internos silenciosos e incessantes. Aprender a pensar sobre como pensamos deveria ser tão essencial quanto ler, escrever ou calcular, porque é isso que define nossa liberdade, autonomia e capacidade de discernir. No entanto, nossas escolas se tornaram, em grande parte, centros de doutrinação; nossas universidades, ao invés de formar profissionais competentes, tornaram-se fábricas de militantes, moldando mentes para aceitar narrativas prontas, em vez de questioná-las.

Kahneman demonstra que cerca de 80% de nossas escolhas cotidianas não emergem da reflexão racional, mas do Sistema 1, rápido, automático, intuitivo, instintivo, acionado por imagens, sons, palavras, estímulos que ativam a parte límbica do cérebro, o território das emoções. Apenas em decisões de alto envolvimento — comprar uma casa, mudar de emprego, assumir compromissos significativos — entra em cena o Sistema 2, analítico, lento, reflexivo, lógico, científico, que estabelece relações de causa e efeito e permite decisões fundamentadas na razão comprovada. O drama do nosso tempo é que vivemos sob o império quase absoluto do Sistema 1, na era do sentimentalismo tóxico, em que emoções governam mentes, enquanto lógica, Ciência, “humanismo racional”, ética e moral são relegadas a segundo plano.

É nesse cenário que se insere a estrela vermelha e amarela do lulopetismo. O partido das emoções, dos instintos, do sentimentalismo tóxico, do lado negro do sentimentalismo. Um partido que explora exclusivamente o emocional, separando a maioria das decisões do lógico, do conhecimento comprovado, das experiências testadas, da Ciência com maiúscula, do “humanismo racional”, da moral e da ética. Em tese, prega um bom-mocismo falacioso, afirmando servir ao povo, mas cujo verdadeiro objetivo é manter os cidadãos servos do Estado, incapazes de decidir sobre seus próprios destinos. É o partido da novilíngua, da perversão das palavras, dos estímulos externos — frases, chavões, slogans — que influenciam mentes incautas a acreditar em falsas verdades econômicas, políticas, sociais e culturais, enquanto essas ideias jamais se sustentam na experiência, na lógica e na razão.

No Brasil, essa distorção é reforçada por dois fatores decisivos. Primeiro, a influência do coletivo: pessoas iletradas ou sem discernimento crítico temem se expor, ser discriminadas, destoar de sua bolha ideológica; reproduzem opiniões dominantes e negligenciam a realidade. Segundo, a ascensão dos falsos especialistas digitais — os “especialistas de Instagram” — que, sem fundamento, disfarçam manipulação com jargões técnicos e frases de efeito, recicladas e projetadas para excitar emoções em vez de informar. Eles não educam; manipulam.

Ontem, 23 de setembro de 2025, o discurso de Lula na ONU exemplificou esse fenômeno. Nada foi racional ou fundamentado; tudo foi emocional, vitimista, falacioso, cuidadosamente projetado para acionar o Sistema 1. Soberania pervertida, ditaduras defendidas, terroristas afagados e legitimados, silêncio sobre os reféns inocentes de posse do Hamas. Israel, a única democracia do Oriente Médio, foi, desgraçadamente, mais uma vez, acusada de cometer genocídio. Escárnio! Foi um espetáculo de manipulação emocional, um teatro de persuasão que explorou fraquezas humanas, medos e preconceitos.

Ainda assim, algo mudou. As redes sociais quebraram o monopólio da narrativa. Hoje, a população discute política, conhece os ministros do STF, identifica abusos, percebe a ditadura da toga. Esse deslocamento do imaginário popular alarma aqueles que sempre dependeram de manipular emoções.

Estamos diante de uma guerra cognitiva, um embate entre o automatismo emocional e a reflexão racional. A esperança reside em educar nossas próximas gerações para analisar, refletir, questionar e pensar. Só assim os cidadãos poderão perceber manipulações, resistir às falácias e escolher com liberdade e clareza.

Educação, com base na sabedoria acumulada, diversa. Ensino racional e emocional são liberdades. Enquanto não entendermos isso, enquanto não ensinarmos nossas crianças a pensar, continuaremos a ser conduzidos, manipulados, e a democracia será sequestrada por palavras doces que escondem perversidade.

A democracia de “verdade” permite que partidos ideológicos, sectários e populistas, como o PT, existam. Contudo, é essencial que as pessoas tenham acesso a educação sólida, sejam expostas a diferentes visões de mundo, fatos, argumentos, Ciência, história e experiências comprovadas. Só assim poderão resistir à manipulação de uma deselite progressista do atraso e de líderes populistas e autoritários que exploram vieses cognitivos e gatilhos emocionais. Mais importante ainda, poderão aprender a pensar criticamente, reflexivamente, e a decidir seus próprios destinos com autonomia e responsabilidade. A liberdade, então, deixará de ser palavra vazia e se tornará ação concreta, consciente, plena.

Pontocritico.com

Source: RS Notícias: EMOÇÃO E PODER – 24.09.25

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