RS Notícias: Creatina: do músculo ao cérebro – mito ou realidade?

 

São Paulo, 11 de novembro de 2025 – Por quase 30 anos, a creatina reinou absoluta como aliada da hipertrofia muscular, consolidada como um dos suplementos mais estudados, seguros e eficazes para aumentar força, potência e resistência em treinos intensos. Mas, nos últimos anos, a ciência — e o marketing — passaram a prometer algo novo: melhora no desempenho mental. Será verdade?“O cérebro também precisa de energia rápida para memória, raciocínio e atenção. Se a creatina turbina os músculos, por que não faria o mesmo com a mente?”, questiona o nutrólogo Diogo Toledo, coordenador de Nutrologia do Hospital Israelita Einstein.

O gatilho para o hype foi um estudo alemão de 2024, publicado na Scientific Reports: 15 voluntários privados de sono por 21 horas ingeriram uma dose única e alta de creatina e apresentaram pequenos ganhos em memória, tempo de reação e raciocínio. O achado viralizou — mas com interpretações simplistas.O que a ciência realmente dizÁrea

Evidência

Conclusão

Músculos

Centenas de estudos (ex: Nutrients, 2025)

Comprovado: +0,5 kg de massa magra em 1 semana; +5% a 15% em força.

Cérebro (saudáveis)

~25 estudos, resultados inconsistentes

Indícios fracos: leve melhora em privação de sono ou estresse agudo.

Doenças neurológicas

12 ensaios grandes (Parkinson, ELA, Huntington)

Nenhum benefício clínico.

“São 25 estudos com resultados mistos. Às vezes melhora um teste, às vezes não. E mesmo quando melhora, não sabemos o que isso significa na prática”, alerta o nutricionista Igor Eckert, cofundador da plataforma Reviews.

Como a creatina funcionaProduzida naturalmente no fígado, rins e pâncreas (70–80% da necessidade).

Armazena ATP — energia rápida para células musculares e cerebrais.

Suplemento (3–5 g/dia) satura estoques que a dieta não alcança (1 kg de carne = 1 dose).

Mito do “cérebro turbinado”Não é nootrópico. Não melhora cognição em condições normais.

Efeito compensatório apenas em fadiga extrema (ex: privação de sono).

Estudos em Alzheimer/Parkinson: zero impacto clínico (ex: ensaio com 1.741 pacientes, JAMA 2015).

O viés da indústriaDesde 2021, revisões assinadas por especialistas ligados a fabricantes repetem hipóteses, ignorando evidências negativas. Eckert chama de “viés de confirmação”.Recomendação finalQuem deve usar?

Por quê?

Atletas de força/potência

Benefício comprovado.

Pessoas saudáveis buscando QI+

Não funciona.

Idosos ou com fadiga mental

Talvez, mas evidência fraca.

“Creatina é excelente para músculos. Para o cérebro? Ainda é promessa, não realidade”, resume Eckert.

A ciência avança, mas o pó milagroso para a mente ainda não existe.

Correio do Povo

Source: RS Notícias: Creatina: do músculo ao cérebro – mito ou realidade?

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