Brasília, 11 de novembro de 2025 – Os Correios cancelaram a venda de um imóvel avaliado em R$ 280 milhões na capital federal após receberem um cheque sem fundos como pagamento inicial. A arrematante, a ONG CPM Intercab, sediada em Taguatinga (DF) e coordenada pelo líder religioso Jorge Luiz Almeida da Silveira (conhecido como Pai Jorge de Oxossi), foi a única participante da licitação. A estatal afirmou que o processo seguiu as normas, mas está em fase de anulação, com nova licitação em planejamento.O imóvel e o leilãoO terreno de 212 mil m², localizado no Setor de Clubes Esportivos Norte — área nobre próxima ao Iate Clube de Brasília —, abrigava a Universidade Corporativa dos Correios (UNICORREIOS), com salas de aula, piscinas, quadras esportivas e restaurante para funcionários. Desativado devido à crise financeira da estatal, o bem foi avaliado em R$ 322 milhões, mas arrematado pela ONG por valor mais baixo, em leilão aberto em junho de 2024. A proposta previa R$ 500 mil à vista (via cheque) e o saldo de R$ 279,5 milhões parcelado.A homologação ocorreu no mês seguinte, mas o então presidente Fabiano Silva suspendeu a transação para apurações de compliance, que revelaram ausência de capital social na ONG e recebimento de auxílio emergencial pelo dirigente durante a pandemia. Apesar dos alertas, a Diretoria de Administração considerou o processo regular. Em setembro, a CPM Intercab desistiu, solicitando devolução do valor pago.O cheque sem fundos e as irregularidadesO pagamento inicial veio de um cheque de R$ 500 mil emitido pela M Gorete F Alves Ltda (CNPJ 04.601.058/0001-04), considerado inexistente pela Receita Federal. Entre 26 de junho e 24 de outubro de 2024, não houve crédito na conta dos Correios. O CNPJ é quase idêntico ao da MG Incorporadora de Imóveis Ltda, de Maria Gorete Ferreira Alves, alvo de mandado de prisão emitido no mês anterior pela Polícia Civil do DF por golpes em negociações de terras e georreferenciamento. O advogado dela, Bruno Trelinski, não se manifestou.Declarações das partes
- Correios: “O processo seguiu todas as normas legais. Estamos em fase de anulação e realizaremos nova licitação para o imóvel.”
- Pai Jorge de Oxossi: “Não sabia das irregularidades. Dona Maria Gorete visitou o terreiro uma vez, prometeu apoio financeiro para um projeto social com cursos para jovens negros e teologia de religiões de matriz africana, mas sumiu. Nunca desistimos; os Correios só disseram que era ‘ordem superior’. Ainda pretendemos comprar o imóvel, com recursos de ativos em negociação, como letras do Tesouro.”
A ONG planejava usar o espaço para capacitação de jovens periféricos e aulas religiosas, mas o projeto nunca saiu do papel. A anulação reforça a crise dos Correios, que precisam de R$ 20 bilhões para equilibrar contas e já alienaram outros bens subutilizados.
Estadão
