Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) lançaram o projeto Riskclima, que usa inteligência artificial para mapear áreas vulneráveis a extremos climáticos no Brasil e propor medidas práticas de adaptação. Financiado pelo CNPq e em andamento até 2026, o estudo analisa eventos das últimas seis décadas e projeta cenários futuros, com foco em impactos sociais e ambientais.Coordenado pelo professor Márcio Cataldi, do Laboratório de Monitoramento e Modelagem do Sistema Climático (Lammoc), o Riskclima adapta modelos globais do IPCC à realidade brasileira via IA. A tecnologia aprende com simulações passadas — ajustando, por exemplo, subestimações de chuvas — para refinar previsões de 20 anos à frente. O resultado será um relatório executivo para influenciar políticas públicas, como alertou Cataldi: “A ideia é criar um relatório executivo e tentar contribuir para a criação de políticas públicas”.Vulnerabilidades por região
- Norte: Ondas de calor mais intensas nos últimos 10 anos, com baixa capacidade de adaptação em populações ribeirinhas. “Foi um resultado assustador, porque é a região com menos recursos para lidar com isso”, disse Cataldi.
- Sul: Chuvas extremas por bloqueios atmosféricos, como nas enchentes de 2024 no RS (184 mortes). “Isso parece ser o padrão normal a partir de agora”, alertou o coordenador.
- Sudeste e Centro-Oeste: Secas prolongadas, com queda na umidade do solo detectada por satélites da NASA (artigo na Nature). Afeta agricultura, energia e abastecimento na região mais populosa.
- Nordeste: Agravamento da seca no semiárido, rumo à desertificação: “Era seca, mas está ficando mais seca”.
Soluções propostasO projeto enfatiza ações localizadas e urgentes:
- Ondas de calor: Lembretes de hidratação para idosos (inspirado nas 70 mil mortes por desidratação na Europa em 2023).
- Chuvas intensas: Mapeamento de áreas de risco e manutenção de infraestrutura, como comportas em Porto Alegre.
- Secas: Otimização de irrigação, uso de aquíferos, energias renováveis (eólica e solar) e preservação de reservatórios. No Centro-Oeste e Sudeste, priorizar a água como “necessidade nacional”.
- Populações tradicionais: Educação ambiental adaptada culturalmente, sem impor tecnologias rejeitadas.
Cataldi cobra ação imediata: “Não dá pra esperar. Ainda demoraria duas décadas para o equilíbrio climático retornar, mesmo sem novas emissões”. O relatório deve ser apresentado às autoridades até 2026, com o time da UFF à disposição para mitigar os riscos já presentes.
Agência Brasil e Correio do Povo
