RS Notícias: Bete Mendes: A Vida e a Luta de uma Atriz e Militante Inesquecível

Elizabeth Mendes de Oliveira, conhecida como Bete Mendes, nasceu em 11 de maio de 1949, em Santos, São Paulo. Com uma trajetória marcada por sua atuação nas artes e na política, ela é uma figura icônica no Brasil, combinando talento artístico com engajamento social e político. Abaixo, detalho sua vida, obra e carreira com base nas informações disponíveis.

Vida Pessoal e Formação

Filha de Osmar Pires de Oliveira, suboficial da Aeronáutica, e Maria Mendes de Oliveira, Bete Mendes começou a se interessar por artes cênicas desde cedo, participando de peças escolares aos 5 anos. Iniciou o curso de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP), mas foi impedida de concluí-lo devido à sua militância na organização de esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) durante a ditadura militar. Por conta disso, foi presa duas vezes pelo DOI-CODI, em 1970, sendo torturada na segunda prisão pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Após sua liberação, formou-se em Artes Cênicas pela USP, consolidando sua carreira artística.

Bete foi casada com o diretor e ator Dennis Carvalho entre 1970 e 1975, e teve outros casamentos, com Antônio Carlos de Oliveira e Marco Antônio Fernandes.

Carreira Artística

Televisão

Bete Mendes iniciou sua carreira na televisão em 1966, na novela Águias de Fogo (TV Excelsior). Ganhou destaque em 1968, interpretando Renata em Beto Rockfeller (TV Tupi), um marco da teledramaturgia brasileira. Sua passagem para a Rede Globo em 1974 marcou o início de uma longa trajetória na emissora, com papéis memoráveis, como:

• Sílvia Mahler em O Rebu (1974), onde interpretou a misteriosa personagem assassinada.
• Vânia em O Casarão (1976).
• Sinhazinha Flô (1977), como protagonista Flora Meirelles.
• Dona Benta na última temporada de Sítio do Picapau Amarelo (2007).
• Piedade em Caras & Bocas (2009).
• Arlete, uma costureira, em Garota do Momento (2024), marcando seu retorno às novelas após sete anos.

Ao longo de quase 60 anos de carreira, Bete atuou em mais de 40 novelas e minisséries, trabalhando em emissoras como Tupi, Globo, Bandeirantes, Manchete, SBT e TV Cultura. Outros papéis notáveis incluem Tieta (1989, como Aída), Insensato Coração (2011, como Zuleica) e Flor do Caribe (2013, como Olívia).

Cinema

No cinema, Bete participou de cerca de dez filmes, com destaque para:

• As Delícias da Vida (1974).
• Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman.
• Brasília 18% (2006).
• Vazio Coração (2013).
• Vítimas do Dia (2025, previsto).

Teatro

Sua estreia no teatro foi em 1968, na peça A Cozinha, de Arnold Wesker, dirigida por Antunes Filho. Outros trabalhos incluem Gota d’Água (1975), A Morte de Danton (1977) e Bárbara do Crato (2001). Sua versatilidade no palco reforça sua importância para as artes cênicas brasileiras.

Carreira Política

Bete Mendes foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, ao lado de figuras como Luiz Inácio Lula da Silva. Elegeu-se deputada federal por São Paulo em duas legislaturas:

• 1983-1987 (PT): Foi terceira suplente da Mesa Diretora da Câmara e titular da Comissão de Transportes. Propôs a criação de uma comissão para elaborar um projeto de Constituição, mas o projeto foi arquivado. Expulsa do PT em 1985 por votar em Tancredo Neves na eleição presidencial indireta, uma decisão que considerou alinhada à redemocratização.
• 1987-1991 (PMDB): Participou da Assembleia Nacional Constituinte, contribuindo para a Constituição de 1988. Licenciou-se para atuar como Secretária Estadual de Cultura de São Paulo (1987-1988) no governo Orestes Quércia.

Foi também presidente da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj) em 1999, durante o governo Anthony Garotinho. Sua militância incluiu apoio às greves dos metalúrgicos do ABC, à regulamentação profissional de artistas (conquistada em 1978) e ao movimento pela Anistia, além de sua associação ao Movimento Humanos Direitos.

O Caso Brilhante Ustra

Um dos momentos mais marcantes de sua trajetória ocorreu em 1985, durante uma viagem oficial ao Uruguai com o presidente José Sarney. Bete reconheceu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que a torturou em 1970, como adido militar na embaixada brasileira em Montevidéu. Sua denúncia gerou ampla repercussão, reacendendo debates sobre a Lei da Anistia e a responsabilização de torturadores. Ustra negou as acusações em seu livro Rompendo o Silêncio, mas o caso reforçou as acusações contra ele por outros ex-presos políticos.

Legado e Atualidade

Aos 75 anos, Bete Mendes continua ativa, com projetos previstos para 2025, como a série Espécie Invasora (Globoplay) e o filme Vítimas do Dia. Em entrevistas, ela destaca sua paixão pela arte e pela democracia, afirmando que nunca se aposentará: “Vou me aposentar quando morrer. Quero fazer ainda muitas avós, bisavós.” Crítica ao governo Bolsonaro, ela celebra o momento atual da cultura brasileira, impulsionado, segundo ela, por um governo democrático.

Bete foi homenageada em Santos com uma estrela na “Calçada da Fama” em 2007, ao lado de nomes como Pelé, e no Festival Internacional de Cinema de Paraty, reconhecendo sua contribuição às artes.

Impacto e Relevância

Bete Mendes é um símbolo de resistência, talento e engajamento. Sua carreira artística, com papéis que marcaram a televisão, o cinema e o teatro, caminha paralela à sua luta por justiça social e democracia. Mesmo enfrentando boicotes por seu posicionamento político, ela nunca recuou: “Sempre defendi a democracia, a cultura e as mulheres. Quem defende seus princípios permanece de pé.”

Sua história, que inclui enfrentar a repressão da ditadura e denunciar torturadores, inspira gerações, e sua vitalidade aos 75 anos reforça seu compromisso com a arte e a cidadania. Um filme sobre sua vida, dirigido por Bruno Safadi, está em desenvolvimento, com apoio da atriz Leandra Leal, prometendo eternizar sua trajetória.