Antes de retomar a série de textos acerca da FEB, desejo externar os meus dolorosos sentimentos pela morte do grande amigo, general César Augusto Nicodemus Souza, no mês de outubro de 2025. Uma enorme perda para o Exército e para o Brasil. A propósito, nas horas de lazer, este velho e octogenário “centurião”, assiste aos desfiles de Sete de Setembro, em especial os das tropas da Força Terrestre; e muito me impressionou o Colégio Militar de Curitiba, pelo garbo, precisão de movimentos, uniformes etc. E lá estava o carneirinho “Nicodemus”, na relembrança do inesquecível general César Nicodemus. “Requiescat in Pace”, inolvidável militar e patriota!!
A História, como é consabido, não se repete. Entretanto, como assinalam historiadores de tomo, há circunstâncias muito semelhantes que reaparecem na existência de cada povo, consoante as velhas teorias do “pendulum historiae” (pêndulo da História) ou “horologium historiae” (relógio da História). Como uma senoide, as Nações atingem ao apogeu de sua evolução histórica e muitas vezes por negligência de seus próprios filhos, sofrem, prematuramente, o seu perigeu. Já dizia o historiador Gustavo Barroso: “Aqueles países que não escutam as badaladas sonoras de sua História, por seus feitos gloriosos, esquecendo-os, chorarão, amargamente, ao ouvir o triste dobre dos sinos”… Graças ao bom Deus, tais vaticínios, não nos alcançaram.
No ano de 2025, comemoramos as “Bodas de Carvalho” ou “Bodas de Nogueira” (são os jubileus dos 80 anos) da Força Expedicionária Brasileira. Como lá atrás comentado, muito já se escreveu sobre a FEB. Trabalhos leves, mais superficiais e triviais (porém, muito importantes como nos prelecionam a “História Nova” ou “História das Mentalidades”, posto que a micro-história faz a tessitura da macro-história), e também outros de maior profundidade e abrangência, mais consentâneos com as análises técnico-militares. A 1ª DIE operou, no Velho Continente, junto a muito bem preparadas Divisões, como a 10ª Divisão de Montanha, do V Exército dos EEUU. Era uma Divisão famosíssima, de fortes e gigantescos ‘super-homens’, de mais de 1,80 m de altura, adestrada nas Montanhas Rochosas. E o Estudo Comparativo da FEB, como o procedido pelo general Carlos de Meira Mattos, teria de se fazer com uma outra Divisão, das tantas do Teatro de Operações. E segundo ábacos de avaliação, o trabalho do dito general concluiu que a nossa Divisão se saiu airosamente, eis a verdade, merecendo os melhores encômios de várias autoridades do Exército americano e que aqui seria despiciendo repetir.
Acabo de receber dois fantásticos e robustos livros, a mim ofertados pelo Ministro do STM, Dr. Péricles Aurélio Lima de Queiroz, presidente da Comissão de Memória da mencionada Corte, que os escreveu e organizou junto com a Dra. Maria Juveni Lima Borges, com base em documentos raríssimos, alguns inéditos, do Arquivo do Tribunal. Os títulos: “A Justiça Militar Brasileira na Guerra da Tríplice Aliança – 1864-1870” (lançado em Buenos Aires, entre 18 e 21 de novembro de 2025, no XVI Encontro Internacional de História sobre Operações Bélicas na Guerra da Tríplice Aliança); e “A Justiça Militar na Força Expedicionária Brasileira – FEB: 1944-1945 – 80 Anos da FEB”. Esta obra, de larguíssimo fôlego, fartamente ilustrada, descreve em minúcias tudo a respeito da Justiça Militar na FEB, tornando-se, destarte, imprescindível para a historiografia militar hodierna. Tive o privilégio de ser o comandante de Companhia do ministro Dr. Péricles, no Curso de Infantaria do CPOR/SP, no ano de 1973 (o Ministro, por muitos anos, foi tenente R/2, em Lins-SP). Eram 105 jovens alunos que, ao depois, já oficiais da Reserva de 2ª classe, muito se distinguiriam nas sociedades paulista, paulistana e nacional, entre eles, particularmente, o citado Ministro. Os que me conhecem, sabem de minha aversão por promoções pessoais, mas não poderia deixar de relatar as referências pessoais e elogiosas com que o Ministro me galardoou, no livro que escrevemos – “Jubileu de Ouro – Infantaria 1973-2023” , quando do Cinquentenário da “Turma Centenário de Santos Dumont”. Disse o ministro Péricles, aluno 199- Queiroz: ……..”Tivemos o privilégio de contarmos com instrutores e monitores realmente dedicados, jovens oficiais instrutores do exato cumprimento de suas tarefas, e envolvidos em formar uma turma homogênea, coesa, forte. Destes foi expoente o capitão de Infantaria MANOEL SORIANO NETO, de inolvidável liderança, aguda inteligência, notável cultura geral; mais tarde, o renomado historiador que conhecemos, queridíssimo por todos, mas não temido.
Disciplinador, exigente com os estudos da Turma, dedicado ao treinamento físico, nos acompanhava de perto em todas as horas, sem abandonar o seu olhar fraterno, suas palavras encorajadoras de estímulo ao dever, seus gestos de nímia gentileza e educação para com todos nós. Conhecia todos pelo nome de guerra. Passados mais de 50 anos, conservamos a amizade, consideração e afeto ao nosso capitão Soriano, presente em muitas de nossas comemorações”…… Gratíssimo, Ministro Péricles e ardoroso Infante, meu aluno 199, Queiroz!!
A I Guerra Mundial (IGM), denominada de “A Grande Guerra”; “Guerra das Guerras”; “Guerra para acabar com todas as Guerras”; “Guerra de Trincheiras” e “Guerra de Posição”, não atingiu aos objetivos que dela se esperava e que ocasionaria, 21 anos depois, a gigantesca hecatombe da II GM, com mais de 60 milhões de mortos… Foi uma guerra estática, sem grandes movimentos estratégicos, onde prevaleciam as metralhadoras, as longas trincheiras, o cimento armado e o arame farpado, tudo de forma defensiva, sem grandes brilhos militares para a milenar Arte da Guerra. (Outrossim, foi uma guerra macabra em que proliferaram graves infecções, como a peste dos piolhos e o ‘pé-de-trincheira’, ocasionando gangrenas e amputações). Daí a empolgação pela “Linha Maginot” (para a defesa da França e que foi contornada pelos alemães em sua primeira ofensiva). Cunhou-se, “ipso facto”, a expressão “mentalidade Maginot”, após a inexplicável e abrupta desavença entre diversas nações europeias. Após o conflito, o Brasil contratou uma operosa Missão Militar Francesa que integrou o nosso Exército por vinte anos (1919/1939). (continua).
Coronel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar
Origem: https://www.rsnoticias.top/2025/12/a-gloriosa-forca-expedicionaria_30.html