RS Notícias: A GLORIOSA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA (II)

   A mobilização da FEB foi bastante dificultosa e coordenada pelo ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, que a descreveu em robusto livro.

    Apenas uma das três Divisões de Infantaria previstas (um Corpo de Exército) foi organizada. Era a 1ª DIE : 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Antes de seu deslocamento, a tropa tornou-se motivo de sórdida campanha de chacotas. Maus brasileiros manifestaram ferino descontentamento com a convocação de reservistas, em especial de seus parentes. Alegavam que somente os da ativa deveriam ser convocados. Assinale-se que dos oficiais superiores e capitães, 98% eram da ativa do Exército; entre os oficiais subalternos a proporção diminuiu para 51%, porquanto a Força não dispunha da quantidade necessária de tenentes e aspirantes a oficial. Com deboche, germanófilos negacionistas, “quinta-colunas” , diziam abertamente: “Imagine-se o nosso João sifilítico, opilado e desdentado, enfrentar o boche Fritz explodindo saúde pelas bochechas”… Ainda mais: “As tropas não embarcarão pois o seu comandante é “demorais”; “Zenóbio é da costa e a guerra é nas montanhas”; “Cordeiro não é animal de briga” e “Olímpio, que mora no Olimpo, quererá saber de guerra?”. E que “era mais fácil uma cobra fumar do que a FEB embarcar”. Porém, a Força Expedicionária embarcou para o Velho Mundo e o seu distintivo (símbolo), popular e nada heráldico, aplicado no braço esquerdo dos uniformes, era uma cobra verde fumando um cachimbo…
Havia quistos raciais nos estados do Sul, nas regiões de colonização alemã, simpáticos ao III Reich. Isto se tornou uma seríssima preocupação para o governo que acabara de se aliar aos EUA e Inglaterra.
O muito penoso recrutamento (da ordem de 180.000 brasileiros, aí incluídos capelães militares, enfermeiras, servidores do Banco do Brasil e correspondentes de guerra) foi realizado em todos os estados e não somente, como acertado de início, nas 1ª, 2ª e 4ª Regiões Militares (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, respectivamente), ou seja, no espaço do território brasileiro mais ecumênico. A concentração geral passou a ser no Distrito Federal e não em Resende, RJ.
Logo após a partida do 1° escalão (o “Destacamento FEB”), decidiu-se que as outras duas Divisões não mais seriam convocadas (para termos uma noção de grandeza, um Corpo de Exército a três Divisões corresponderia a mais de 70.000 homens; o efetivo total de nossas Forças Armadas era de 60.000 homens e se aquartelava principalmente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul). A par disso, as Hipóteses de Guerra previstas visavam apenas a teatros de operação continentais.
Impende lembrar que adeptos do nazifascismo acusaram os EUA, falsa e malevolamente, da autoria dos torpedeamentos dos navios brasileiros entre 1942 e 1945. Entretanto, anos depois da guerra, a biblioteca de Stutgart (Alemanha) realizou uma percuciente pesquisa a esse respeito. O seu relatório especificou a data-hora e localização em que cada navio foi posto a pique, além do nome do comandante do submersível lançador dos torpedos e outros registros.
O Brasil, por decreto-lei, de setembro de 1939, declarara a sua neutralidade. Todavia, o governo, embora de forma discreta, demonstrava predileção pelo Eixo (Roma-Berlim-Tóquio). Getúlio Vargas em um pronunciamento, no dia 11 de junho de 1940, a bordo do encouraçado Minas Gerais – navio capitânea da Esquadra -, não deixou dúvidas sobre isso. No mês seguinte, julho de 1940, realizou-se a 2ª Reunião de Havana com a presença dos ministros das Relações Exteriores dos países americanos. Ao seu final, ficou estabelecido: “Todo atentado, de parte de um Estado não americano, contra a integridade ou inviolabilidade do território, da soberania ou da independência política de um Estado americano, deverá ser considerado como um ato de agressão contra todos os Estados do continente”. Destarte, com o ataque japonês a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941 (tachado de “O Dia da Infâmia”), nosso país, em janeiro de 1942, em face do que foi avençado em Havana, rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo. A Alemanha, então, encetou uma campanha submarina contra navios mercantes nacionais, o que redundou, de nossa parte, na declaração do estado de beligerância contra a Alemanha e a Itália (não contra o Japão), em 22 de agosto de 1942. Outrossim,  em represália, incorporamos à nossa frota mercante, mais de vinte navios dos inimigos, atracados em nossos portos. Estávamos em guerra…
Desafortunadamente, era notória a fragilidade das Forças Armadas brasileiras que se encontravam despreparadas para participar de uma guerra de proporções globais (tal situação, é de bom augúrio relembrar, acontecera há muitos anos, quando do início da Guerra do Paraguai…).
A esse propósito, atentemos para as sábias considerações do general Octavio Costa, em seu magnífico livro, todo ele rica e fartamente ilustrado, “Trinta Anos Depois da Volta”: – Citação: “Éramos uma nação sem motivação psicológica consistente e duradoura, sem confiança em si mesma, enganada pelo ópio do ufanismo ilusório ou deprimida pelo desalento subserviente e imobilista. No país dos basbaques, onde tudo vinha de fora e de fora tudo se copiava, ainda não tinha ido mais fundo na sensibilidade nacional, o safanão da Semana de Arte Moderna, de 1922, na rotina de nossa macaqueação cultural. Eram tempos de cantar tango e bolero, de encenar “Paradas da Raça” e de fazer anauê.
Tudo nos vinha de fora: o trem, o automóvel, o navio, e o trator. Produto nacional, de escassa manufatura feita aqui, era sinônimo de falta de qualidade. Não tínhamos refinaria, nem siderurgia nem grandes hidrelétricas. O Brasil continuava sendo o eterno país do futuro. Éramos uma nação extremamente pacifista, cujo Exército havia disparado seu último tiro, em 1870, nos campos do Paraguai. Desde o início da década de 1920, aqui estava uma operosa Missão Militar Francesa, que montara no Exército, o admirável sistema de ensino militar que responde pelo excelente nível cultural de nossos oficiais.
Esse era o Brasil de antes da guerra, contemplativo e pobre, pessimista e preguiçoso, inquieto e contraditório, marcado de preconceitos e complexos, às vezes visionário, quase sempre Jeca Tatu” – Fim da Citação.                        (continua)
Coronel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar

Origem: RS Notícias: A GLORIOSA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA (II)

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *