Antes de qualquer consideração, desejo compartilhar a minha enorme alegria, quando assisti ao vídeo da comemoração do Dia do Exército, em Brasília, neste 2025. Uma magnífica demonstração de lídimo patriotismo, por meio da perfeição da ordem unida! No meu tempo de jovem capitão, lembro-me dos dizeres de um velho chefe militar de que o glorioso, altaneiro e invicto Exército de Caxias, deveria “se desencapsular”. De pé, muitas palmas!!
Na História Militar do Brasil, dois episódios avultam de superlativa importância: a Guerra do Paraguai e a nossa participação na II Guerra Mundial.
Muito já se escreveu acerca da Força Expedicionária Brasileira. Para gáudio de todos nós, são abundantíssimas as abordagens sobre o tema: umas mais completas e didáticas e outras menos perfeitas, eis que as análises são leves e superficiais. Aqui saliento, entre tantas, a publicação, pelo Exército, de vários tomos da “História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial”. E, no ano em curso, o dos 80 anos da Vitória, regosigemo-nos pois ainda muito se estuda as mais recentes glórias marciais brasileiras. Destarte, veio a lume o livro do escritor Francisco Miranda, “Capitão Sabino – Na Guerra e na Paz o Primeiro Comandante da Polícia do Exército”, que eu tive a honra de prefaciar; e está no prelo outra obra, de autoria do professor Marlon Vieira, atinente à modelar existência do capitão Franklin de Carvalho Júnior, que foi o Mestre da Banda (“o Bandão”) da FEB, prenhe de lições militares atemporais nela entesouradas. (Diga-se que o capitão Franklin é o Patrono dos Músicos do Exército; e que o 6° BPE, de Salvador (BA) ostenta, com ufania, a denominação histórica de “Batalhão Capitão Sabino”).
Em junho de 1942, Hitler ordenou o desencadeamento de operações submarinas contra a navegação marítima em nosso litoral e a destruição dos portos do Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Santos. Tudo porque o Brasil “estava se valendo da neutralidade para exportar matérias-primas estratégicas e alimentos para os EUA e Inglaterra”. Após os torpedeamentos de vários navios de nossa frota mercante e com as grandiosas manifestações públicas de toda a Nação, o Brasil reconheceu o “estado de beligerância” com a Alemanha, Itália e o Japão, em 22 de agosto daquele ano de 1942.
Com a presença dos alemães no norte da África, o “saliente nordestino” tornou-se uma área assaz vulnerável a ataques aéreos dos nazistas. (Caso nos utilizemos de uma régua e a colocarmos sobre um mapa do Brasil, de Salvador a São Luís do Maranhão, veremos, a grosso modo, o dito “saliente”, denominado de “Promontório Nordestino” ou “Estreito do Atlântico”). Segundo o general Golbery do Couto e Silva, o saliente é como se fosse um incomensurável porta-aviões que adentra o oceano e dá ao Brasil, o domínio do Sul do Atlântico Sul. Ressalte-se a existência das ilhas pertencentes ao Reino Unido (UK) entre o litoral brasileiro e a África. Elas fazem parte da “Dorsal Atlântica Sul”, uma cordilheira de profundidades abissais que vai do Golfo do México às Malvinas (ilhas de Ascensão, Santa Helena, Tristão da Cunha e Malvinas; as de Fernando de Noronha e Trindade não se localizam na dita Dorsal). A base aérea de Parnamirim – “Parnamirim Field” -, construída em Natal, ao tempo da guerra (uma linha direta para Dakar, no Senegal) era imprescindível para os aliados; dela partiam, diariamente, inúmeras aeronaves para o esforço de guerra, sendo “ipso facto” denominada de “O Trampolim da Vitória”. Os potiguares se jactam de que o Rio Grande do Norte foi o estado que mais de perto viu a guerra…
A bem da verdade, anote-se que os EUA não queriam, de início, a presença de tropas brasileiras na Europa e na África. Julgavam-nos despreparados e que traríamos muitos problemas, se tal ocorresse. Mas ao perceberem que as forças do Eixo poderiam utilizar o arquipélago de Fernando de Noronha como base de submarinos, ameaçando, assim, a segurança do hemisfério americano, dos teatros de operação da China-Burma-Índia e do Mediterrâneo, passaram a dar a devida importância ao nosso engajamento na guerra. Mas ao Brasil caberia somente ceder bases e fornecer alimentos e matérias-primas, como a borracha (aliás, foi notável o trabalho hercúleo dos “soldados da borracha” na Amazônia). Entretanto, mercê de nossas firmes recusas e objeções, deram-nos uma alternativa também indigna: a ocupação das Guianas Francesa e Holandesa ou do arquipélago dos Açores (ora, ora, seríamos “buchas de canhão”…). Contudo, com o peremptório repúdio, em particular de nosso chanceler Osvaldo Aranha e do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, os estadounifenses acabaram concordando que enviássemos uma força expedicionária para a Itália. (continua).
Coronel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar
Origem: RS Notícias: A GLORIOSA FORÇA EXPEDICIOMÁRIA BRASILEIRA