O etanol volta ao centro da transição energética brasileira, com o Rio Grande do Sul ganhando protagonismo na diversificação da produção com cereais como trigo e arroz.
Meio século após o lançamento do ProÁlcool, o Brasil reposiciona o etanol como peça-chave na descarbonização da matriz energética e na disputa global por mercados sustentáveis. Em 2024, o país atingiu sua maior produção histórica: 37 bilhões de litros, um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior, segundo a ANP. Desse total, 29,1 bilhões de litros vieram da cana-de-açúcar e 8,2 bilhões do milho, conforme dados da Unica.
Embora o Rio Grande do Sul ainda represente uma parcela modesta, com cerca de 2 milhões de litros de etanol hidratado, o cenário está mudando. A inauguração da primeira usina de etanol de trigo em Santiago e a futura operação da Be8 Ethanol em Passo Fundo, que poderá processar trigo, milho e outros cereais, sinalizam uma nova fase para o Estado. Nos Estados Unidos, o milho é a principal matéria-prima para o etanol, e o modelo começa a ganhar força no Brasil.
Segundo Alencar Rugeri, da Emater, o avanço das energias renováveis é irreversível, e os produtores gaúchos têm papel fundamental nesse processo. Ele destaca que o Estado já possui experiência com biocombustíveis e que a expansão dependerá da viabilidade econômica. A expectativa é que o aumento da demanda impulsione a produção, desde que haja remuneração adequada.
Um estudo do Ineep projeta um crescimento de 41% no consumo de etanol até 2034, impulsionado pela competitividade frente à gasolina. No entanto, alerta para os riscos das monoculturas voltadas à exportação, que podem comprometer o abastecimento interno e elevar os preços.
A necessidade de insumos para o combustível também pode estimular a adoção de duas safras por ano, ampliando as fronteiras agrícolas. Rugeri vê nisso uma oportunidade de ganhos para o Estado e para novos negócios.
Outro ponto relevante é o destino do excedente da produção agrícola. A safra de arroz 2024/2025 foi de 14 milhões de toneladas, enquanto o consumo nacional gira em torno de 12 milhões. O presidente do Irga, Eduardo Bonotto, revela que o uso do arroz para produção de etanol está sendo estudado, especialmente para a usina de Santiago. Pesquisas indicam que o cereal deixa um resíduo de alta qualidade, e há interesse em experiências internacionais, como as da China e Japão, que já utilizam arroz para biocombustíveis.
Com essas iniciativas, o Rio Grande do Sul se posiciona como protagonista na diversificação da matriz energética brasileira, cinco décadas após o início do ProÁlcool. O uso do álcool como combustível, iniciado há um século, segue evoluindo. Em 1931, o Brasil já exigia 5% de etanol na gasolina; hoje, esse percentual é de 30%, com possibilidade de aumento.
Esses avanços reforçam o papel do Estado na transição energética e na valorização dos grãos como fonte de combustível renovável.
Correio do Povo
