Miguel Rissi Picolli, de 20 anos, trocou a rotina no interior gaúcho por um treinamento militar na Europa e atua como voluntário ao lado das tropas ucranianas.
Miguel Rissi Picolli tem 20 anos e cresceu em Muçum, no Vale do Taquari, a cerca de 150 km de Porto Alegre.
Até pouco tempo, sua vida era parecida com a de muitos jovens da região, cursava ensino técnico em Agronegócios na Univates, em Lajeado, trabalhava com o pai na lavoura e nos aviários da família. Tudo mudou há cerca de seis meses, quando passou a dedicar as madrugadas a pesquisas sobre guerras e geopolítica, trancado em seu quarto.
Sem experiência militar e sem ter servido ao Exército brasileiro, Miguel decidiu se alistar como voluntário para lutar ao lado das tropas ucranianas contra a invasão russa. Em 7 de setembro, embarcou rumo ao Leste Europeu. Aos pais, disse que faria um intercâmbio em Lisboa, Portugal, mas a versão não convenceu. Poucos dias depois, ligou de Varsóvia, na Polônia, para contar a verdadeira decisão, seguiria para uma cidade ucraniana próxima da fronteira, já bombardeada algumas vezes.
Na Ucrânia, Miguel integra um grupo de cerca de 200 voluntários de diferentes países, recebendo treinamento militar intensivo. A rotina começa às 6h com exercícios físicos, marchas com até 15 kg de equipamentos e treinamentos de tiro com fuzis AK-74. As jornadas incluem caminhadas de 15 a 20 km em terrenos acidentados e regras rígidas, com punições coletivas para qualquer falha individual. O jovem afirma não sentir medo ou arrependimento. “Sempre soube o que esperar. Nunca me iludi”, disse ao jornal Estadão.
A viagem foi custeada com recursos próprios. No treinamento, o salário é de cerca de US$ 550 mensais. Após seis meses, os voluntários são enviados à linha de frente, podendo receber até US$ 4,8 mil mensais. Em caso de morte em combate, a indenização gira em torno de US$ 360 mil, segundo a Legião Internacional de Defesa da Ucrânia.
Para a família, ficaram a angústia e as incertezas. O pai, Juliano, e a mãe, Silvana, tentaram convencê-lo a desistir. No início, Miguel chegou a bloquear os pais nas redes sociais, incomodado com a insistência para que voltasse. Hoje, mantém contato diário por mensagens e videochamadas. “É difícil dormir tranquila sabendo onde ele está. Mas só nos resta rezar”, desabafa Silvana.
Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, estima-se que até 100 brasileiros tenham se alistado para lutar na Ucrânia. Segundo o Itamaraty, nove morreram e 17 estão desaparecidos em meio aos combates.
Clic Paverama
Source: RS Notícias: Jovem de Muçum larga tudo para lutar na guerra da Ucrânia
